quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ofício: Atriz.


Quem diz que trabalhar com arte é um caminho fácil, são as mesmas pessoas que chamam de “vida-fácil” o trabalho da prostituição. São pessoas que nunca experimentaram o que é a exposição excessiva de corpo, mente e sentimentos.
O ator leva pra palco tudo o que há de bom e ruim em si. Porém, o trabalho pré-palco é intenso e muitas vezes, sofrido. Esse período é o que chamamos de processo. Durante o processo utilizamos da criação para dar vida ao que está escrito. Essa criação envolve exposições mútuas, revelações íntimas, opiniões confusas. No trabalho em conjunto sabe-se mais do que se queria saber sobre o outro. E ainda assim, por pior que seja um dia de ensaio, nos recompomos para dar continuidade ao trabalho no dia seguinte.
Coloquialmente falando, atuar trata-se de passar por cima de qualquer pudor físico e moral e expor a alma em uma bandeja. Ficar pelada, dizer palavrões, isso não é nada. Difícil mesmo é quando o trabalho toca na ferida. O ator trabalha com sentimentos e vivências muito próprios. Utilizamo-nos de uma técnica chamada “memória emotiva” que consiste em utilizar-se da lembrança de sua mãe no caixão para trazer pro corpo a emoção necessária à cena. Nisso cada um utiliza-se da imagem que mais lhe dói: a morte do seu cachorro, um amor que foi embora, um abuso sexual, uma surra, uma injustiça. Com isso o ator fica revivendo todos os dias aquelas sensações que causaram medo, nojo, raiva. Sensações que qualquer pessoa deve esquecer, mas o ator, em seu ofício de corpo inteiro, as utiliza para vencer seus próprios limites. Uma hora o corpo já entende como deve reagir e o ator transforma o sentimento em ação simples. Essa é a hora de entrar no palco e utilizar-se de tudo que foi assimilado durante o processo. Por isso o momento no palco é de gozo, porque já sofreu-se o suficiente no processo.
Teatro é uma profissão pra ser abraçada. Eu fiquei 2 anos sem fazer teatro. Tinha certeza que não faria nunca mais, que isso não era pra mim, até que surgiram tantos convites que me trouxeram ao palco novamente e que me fizeram pensar: “O teatro me aceitou de volta!” Sim, porque ele é exigente. Se você não se entrega completamente, ele te manda embora. É como um amor real que precisa de cultivo e entrega para ser vivido...

5 comentários:

  1. Na arte não existe ofício fácil, lamento quem se engana.

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  2. Adorei o post!
    Beijos meus

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  3. Adooooorei !
    Exatamente isso que sentia quando entrava nos palcos, fiz teatro por 4 anos, mas acabou. Quem sabe um dia eu não volto como você , né não?
    Afinal, teatro é a poesia que sai do papel e se faz humana.

    muita MEEEEEEEEEEEEERDA pra ti, linda!
    beijos!

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  4. Verdade . pensava q ser ator era profissãO fácil até presenciar um ensaio de uma peça, são profissionais q merecem ser aplaudidos de pé

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