terça-feira, 27 de setembro de 2011

Hoje quem fala por mim é ele...


“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”
(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ao tempo que passa...




"...meu coração não quer deixar meu corpo descansar..."
Escrevendo pelo tempo que passou.
Já enfrentei algumas coisas na vida. Muitas barras bem pesadas. "Viver não é moleza, amigo! A vida é a arte do encontro embora hajam muitos desencontros pela vida..."
Já encarei a morte de perto e disse: daqui não saio, daqui ninguém me tira!
Já me machuquei por fora e conto, rindo, sobre as cicatrizes.
Já me machuquei por dentro e conto, rindo, sobre as cicatrizes...
Já contei piada em enterros.
Já perdi amigos.
Não sou forte o suficiente pra não ter medo mas, sempre deixo o medo saber que eu não sou fácil de dobrar.
Consigo ignorar o medo da morte por mais presente que ela se faça.
Mas há ainda um medo que talvez só o tempo cure, o medo da idade.
Medo da velhice, das rugas, das doenças que ela traz...
Parece uma futilidade comparada á magnitude da vida, mas eu tenho medo do tempo que passa.
Tenho medo desse momento agora onde a madrugada corre solta lá fora e eu escrevo sobre o que se passa.
Um medo de não viver...

domingo, 11 de setembro de 2011

Para uma mulher em especial.




Hoje escrevo pelas mulheres que querem ser mães.
Escrevo pela bonitas pessoas que são e que desejam abrir mão de suas próprias vidas pra cuidar de uma vida nova.
Escrevo para aquelas que sentiram o momento da fecundação e sentiram que suas vidas jamais seriam as mesmas.
Escrevo pra mulher que mesmo sabendo que nunca mais dormirá uma noite inteira tranquila, deseja ter alguém dentro de si.
Para aquelas mulheres que já sentiram um pezinho chutando que eu escrevo hoje.
Escrevo em especial para aquelas mulheres que após sentir tudo isso não puderam dar continuidade a esse novo amor, seja por complicações do parto, seja por erros médicos ou pelo simples abraço da morte.
Escrevo para juntar tantas lágrimas caídas. Para amansar tantos corações que se sentem tão sozinhos. Para oferecer tudo o que poderia dar nesse momento: minha solidariedade e uma braço amigo.
Escrevo porque o pouco que entendo sobre morte e amor me fazem ter certeza de que são duas palavras que não poderiam nunca estar na mesma frase. Quando isso acontece é porque erramos na gramática.
Escrevo porque "minha pobreza tal é que nada tenho a ofertar..."

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Palavras de uma menina parda...



...ou de uma menina negra, de acordo com o IBGE.
Ou palavras de uma pessoa que simplesmente toca sua vida na base do entendimento, respeito e trabalho junto à comunidade negra.
Eu sou, eu faço, eu sei...

Minha mãe me ensinou a não sair por aí espalhando o bem que eu fizer, nem falar demais sobre meus trabalhos pra não atrair inveja.
Acontece que de não falar eu também atraí pessoas que eu não gostaria que estivessem por perto, mas que se encontram perto demais...
Pessoas que durante muito tempo me esperaram cair em uma pegadinha pra detonar uma bomba de sentimentos ruins pro meu lado e contaminar uma leva de pessoas que entraram de gaiato nessa história...
Um dia falei uma coisa que pra mim foi uma brincadeira, mas que ofendeu pessoas por aí. É uma pena ter ofendido mas não é uma pena eu ter dito. Não me desculpo pelo que escrevo mas me desculpo pelo que isso causou nas pessoas.

Pronto. Resolvido. Ou não?...
Não! Porque depois desse acontecido eu descobri muuuuuuitas pessoas que nunca erraram. Muitas pessoas que sempre foram prestativas, boas, espertas e amáveis. Descobri que só eu sou doida, só eu critico, só eu uso maldade, só eu penso bobagens...
É mãe... em casos assim eu preciso dizer coisas...

Preciso dizer que enquanto muitos perderam seu tempo tentando criar uma máscara pra mim, eu estava ocupada pensando políticas afirmativas para os alunos de bônus racial na UFMG. Entrar na UFMG já é bem complicado pra nós, “pretos, pobres e favelados”. Se manter nela é ainda pior!!)
Preciso dizer que enquanto minhas maldades se espalhavam pela boca dos outros eu estava quietinha tocando minha vida e minha pesquisa sobre voz cultura popular para poder fazer uma iniciação científica sobre isso, quem sabe...
Preciso dizer que depois que minha fama de muito mal correu pra fora do meu núcleo eu estava ocupada demais trabalhando pra que meu grupo musical agora se tornasse um grupo teatral também.

Mãe, são coisas que se a gente não diz parece que não fazemos. Quebrei a regra de fazer tudo sem anúncios mas às vezes é preciso que pessoas tomem um sacolejo pra pensar: “uai, será que tudo aquilo que eu ouvi sobre aquela menina do Tambolelê é verdade ou o povo ta exagerando?”
Essas são palavras de uma menina parda que precisavam ser ditas.
Sobre pessoas que usam meu nome por aí, dizer o que? Dizer que alguns escrevem “chupa bando de atleticano viadinho!!” no facebook e ninguém se importa se isso é demasiadamente violento e preconceituoso? Outros dizem “quem leva a erva hoje?” sem pensar na relação direta do tráfico com a questão racial (ou vai me dizer que todos os traficantes são brancos moradores da zona sul??!!).
Eu continuo ocupada demais trabalhando, estudando e divulgando todas as oportunidades que eu posso à todos do meu convívio. Ta precisando de trabalho? Fala comigo que eu ajudo! Quer saber como estudar arte? Bora conversar então! Tenho muito o que fazer além de ficar preocupada com meu nome correndo de forma errada por aí mas existem coisas que precisam ser faladas, esclarecidas e ditas.
Me ofereci tanto pra conversar. Me coloquei à disposição pra qualquer um e ninguém nunca teve coragem de falar pra mim: “Júlia, me explica essa história direito!”

São coisas que eu precisava dizer...
Continuo à disposição com o mesmo sorriso largo.