quarta-feira, 27 de abril de 2011

Declaro-me

Rasgue a camisa, enxugue meu pranto
Como prova de amor mostre teu novo canto
Escreva num quadro em palavras gigantes
Pérola Negra, te amo te amo...

Olha eu aqui.

"eu tenho tanto pra te falar, nem sei por onde vou começar..."
E tanta coisa aconteceu nesse período nebuloso. Há quanto tempo não escrevo, que displicência! Quem se propõe a escrever um blog precisa ter disciplina! Ser periódico e afins. Tanto que estou escrevendo como em um diário, não como eu geralmente escrevo. Afff! Vou parar com essa bobagem por aqui e prometo escrever decentemente no próximo post!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Até onde vamos?...

Diante de tanta tristeza e da imposibilidade de fazer alguma coisa, eu simplesmente faço minhas as palavras do síndico:
"Alô alô Realengo, AQUELE ABRAÇO!"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Resultado do hospital.

Foi uma semana de susto. Recebia visitas de médicos diferentes de manhã e de tarde.
Uns diziam da suspeita de embolia pulmonar.
Outro me disse que não poderia ser porque isso é "doença de velho".
Médicos sempre muito novinhos, atenciosos, prestativos.
Com o tempo a gente começa a criar laços com as enfermeiras porque, quando se chega no hospital, o medo faz com que achemos que todas são uma bruxonildas.

Fiquei no pronto atendimento esperando leito para internação. Foram 4 dias sem banho. Banho de chuveiro e água e sabão não, mas nem por isso eu não me banhava com lenço umedecido, compressas e afins.

Fui pro quarto. Tirava sangue todo dia às 7 da manhã. Fiquei ligada num aparelho que fazia um remédio pingar 3 gotas por hora na minha veia.

Chegou o dia do exame. Fiz uma angiotomografia com contraste que me fez passar muito muito mal.

Voltei pro quarto e de tarde três médicos vieram me ver. Claro que deu medo ver aquela equipe se aproximando. Pensei: ai meu Deus, é meu fim! Era um fim sim, o fim da internação.
A doutora disse que não acharam nada nos exames. Nadinha de nada. Nem no pulmão, nem no coração, nem no sangue. Assumiu que não sabem o que eu tive que me fez passar tão mal e me mandaram pra casa.
Perguntei se poderia ir pra aula no dia seguinte, se poderia fazer atividade física, se poderia correr a lagoa da Pampulha de noite, eles disseram que sim!
Então porque diabos eu fiquei uma semana no hospital ouvindo coisas escabrosas??? aaafff
A medicina tem razão que a própria razão desconhece.
Claro que fiquei feliz de vir embora. Mas confesso que tenho medo de sentir falta de ar de novo, ou de sentir dores, ou de qualquer peripaque possível.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Escrevendo do hospital-injusto...


Olha, eu sempre aceitei que tenho câncer, nunca fui rebelde, assumo meus medos mas uma coisa é fato: eu não acho justo! Tem muita gente ruim nesse mundo que merece uma dose de câncer de intestino com uma pitada de embolia e três xícaras de falta de ar diariamente.

Não acho justo eu ter só 23 anos e depender de um remédio. Não acho justo ser tão nova e ter que tomar remédio pra deixar o sangue mais ralo. Não acho justo minha família sofrer tanto tanto com uma paciente oncológica. Não acho justo esses sustos da doença.

O médico me disse ontem: Não era pra você ter uma trombose, isso é doença de velho. Eu também acho doutor, então como ficamos? Com quem que eu reclamo? Deus? Já reclamei! Mas meu pai dizia: Deus dá o frio conforme o cobertor. Então, seu eu tenho o fardo, é porque consigo carregar. Antes seja comigo do que com algum dos meus. E no mais, existem doenças muito piores e conseqüências muito maiores nesse mundo e, diante disso, o que eu tenho é fichinha.

Mas mesmo mantendo o otimismo, continuo não achando nada justo!

“Mas digo sinceramente, na vida coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia.”

Escrevendo do hospital - com cabelo.


Veio pra cá na quarta uma senhora com câncer de mama. Ela chegou e eu estava penteando o cabelo. Ela era careca, magra, tinha a voz fraca e já não tinha força pra andar. Faz 6 meses que ela trata do câncer.

Tenho medo do “câncer feminino”: Mama, colo de útero, ovário... Não deixo de pensar que sou uma provável candidata a ter problemas futuros... Essa internação me trouxe de volta os medos que eu tinha deixado no caminho: Medo da morte, da dor, da evolução da doença, dos remédios... Já ouvi tantos casos diferentes de tratamentos, doenças e dores que qualquer dorzinha muscular vai me fazer correr pro hospital.

Quando a senhora com câncer de mama chegou, eu agradeci por ter cabelo...

Escrevendo do hospital-durante o aniversário...


Passei meu aniversário internada. Poucas pessoas me ligaram. Mas eu também não queria que ninguém me ligasse pela dó de me ver no hospital. Se for pra falar comigo que seja pra desejar “parabéns”, não pra desejar “força”! Força eu já tenho bastante.

Meu aniversário sempre foi a data mais esperada do ano pra mim. Eu fico ansiosa pelos parabéns dos amigos, pelas festinhas, pelas mensagens. Acho que deveria ser feriado nacional e o céu não teria nenhuma nuvem. Esse ano, pelo contrário, poucos me procuraram, eu não pude receber abraços nem comemorar e até chover choveu.

Mas quem tem família tem tudo e minha família se reuniu no telefone pra cantar parabéns pra mim. Minha prima veio me ver, me trouxe presente e até bolo! Meu Xuxu passou o dia comigo e eu não tive febre durante a noite.

Em alguns momentos o que é mais simples é o que nos faz mais feliz...

Escrevendo do hospital - e a morte ao lado.


Fiquei no Pronto atendimento aguardando leito para ser internada. São duas macas, a que eu ocupo e uma outra para emergências. Estou num hospital para pacientes oncológicos. As dores são em locais diferentes, mas no fim a doença é sempre a mesma. Na noite de quarta veio um senhor em estado vegetativo pra cá. Ele tinha câncer no rim, no intestino e na próstata. Até domingo ele comia, conversava e andava, na segunda parou de andar e comer, na terça passou a desconhecer as pessoas e na quarta era só um corpo que respirava.

Veio a noite e todos dormimos. Esse senhor roncava cada vez mais alto! E quem me conhece sabe que eu não dou conta de dormir com alguém roncando. Nisso eu saculejava, esperniava e eu sabia que isso só me faria ficar mais sem sono. Passou um tempo e esse senhor foi controlando a respiração até voltar ao normal, daí eu dormi de novo.
Logo depois as enfermeiras acendem a luz e batem na porta pra eu acordar. Aquele senhor tinha morrido. Ele morreu do meu lado! Morreu, morreu! Eu passei um pedaço da noite com gente morta perto de mim! Eu fiquei tão assustada que fiquei sem reação. Saí do quarto atônita, sentei na cadeira do corredor com minha irmã e por lá fiquei até que fosse tudo limpo.

São situações as quais estamos sujeitas dentro de um hospital...

Escrevendo do hospital-saco!

Estou ligada em uma maquininha que controla a quantidade de heparina que eu tomo. Essa heparina “raleia” meu sangue e assim o trombo vai se desfazendo. Ele e outros que existirem. São 3 gotas por hora! E eu fico aqui feito cachorro na coleira...

Escrevendo do hospital - ai Jesus!

Quando eu estava chorando por ficar internada, minha irmã foi avisar minha família pelo telefone e saiu da sala. Enquanto isso eu chorava e chorava. Uma senhora evangélica que acompanhava um paciente veio pregar pra mim (garro num ódio de crente pregando pra mim!) e disse “pensa no senhor Jesus e peça que ele passe as mãos ensangüentadas dele sobre você pra te curar” e eu pensei “ECA! Ele que vá lavar as mãos antes disso!”
Vê lá se Jesus vai querer passar as mãos ensangüentadas em mim, gente? Pra quê? Pra eu correr pro banho? Ele é mais inteligente que isso né...

Escrevendo do hospital-José de Alencar


Que diabo de doença dos infernos é essa que consome esse mundo de gente? E não há dinheiro nem remédio que resolva, ela não poupa ninguém! Ouvi dizer que o José de Alencar tomava um remédio que custava mais de 100 mil reais a dose. Adiantou? Não! Ele sarou? Não, ele morreu de câncer! Assim como ele, o Zé da esquina, abandonado no hospital, também tratava de câncer também morreu. Vidas tão diferentes, mortes iguais...

Escrevo do hospital... ê irmã.



Esses últimos dias foram assim: minha mãe internou quinta feira pra fazer uma cirurgia de pedra na vesícula. Voltou pra casa segunda de tarde. Minha irmã ficou com ela todos esses dias. Terça 5 da tarde eu estava internando e quem ficou noite e dia comigo? A mesma irmã. Não que eu não tenha mais quem fique, hoje estão todos se revezando, só minha mãezinha que não pode ficar aqui porque está recém operada. E minha irmã socorre, entende, ajuda, não tem frescura de nada, me carrega no colo se precisar, chora comigo diante das notícias, chora lá fora pra eu não ver, se distrai, fica irritada, enfim, vive a minha dor.

Quando soubemos da internação ela disse “eu preferia que fosse comigo”. Eu sei irmã. Mas dentre todos vocês eu ainda assim prefiro que seja comigo porque enquanto sou eu quem passa por isso eu vou me virando, não me deprimo, continuo sendo forte, faço tudo que posso. Mas e se fosse com algum de vocês? Aí sim doeria mais pelo fato de não poder sentir na pele a mesma dor. E eu sei que é bem assim que você se sente...

Escrevo do hospital-2



Voltando ao hospital, voltaram todas as lembranças, todos os medos de antes. Eu não esperava mais uma surpresa desse maldito! Eu tinha dor e falta de ar e um medo danado, mas ter que voltar ao hospital da cirurgia me fazia pensar em tudo de ruim. Mantive os olhos fechados o quanto pude. Não queria estar ali, rever aquelas paredes de um branco pálido, aqueles médicos todos e aquele monte de gente com câncer de cabeça, pulmão, fígado intestino e todos os pedacinhos do corpo.

O inevitável: a médica me internou. Embolia pulmonar é sério o suficiente para que eu mereça um leito de hospital. Não há força que resista a mais essa notícia. Chorei, mas choreeeeei, mas chorei até ficar com dó de mim. Chorei compulsiva de medo e de constatação. Chorei como criança, segurando um paninho na frente da boca pra abafar o barulho. Não tem jeito, por mais que você se sinta muito bem, o câncer sempre dá um jeitinho de te lembrar que você é doente, que ele continua com você.

Escrevo do hospital-1

Embolia... trombose... Marevan... Heparina... Nomes não habituais pra uma pessoa de 23 anos recém completados.

Realmente, o câncer é cruel e triste. Te consome, te apronta surpresas.

Segunda dia 28/03 eu fui parar no hospital devido uma embolia pulmonar, é o mesmo que trombose, mas no pulmão. Fui saber que a trombose é comum em pacientes que se tratam com hormônios. Inferno! Eu tenho câncer há 3 anos e ninguém nunca tinha me dito isso! Eu nunca imaginei que pudesse ter um piripaque por causa de um “trombo”! É grave? Eu poderia ter morrido? SIM! Se ele tivesse parado no meu coração eu teria uma parada cardíaca, se fosse pro cérebro era meu fim! Pra minha sorte ele era pequeno e o caminho normal foi pro pulmão. Pra tudo há jeito...
Deus dá o frio conforme o cobertor...

Escrevendo do hospital...


No período de 29/03 a 04/04 eu fiquei internada no hospital Luxemburgo em BH.Pra quem ainda não sabe (o que eu duvido), eu tive câncer de tireóide em 2007, fiz cirurgia, tomei um iodo radioativo como tratamento e desde então faço religiosamente o controle da doença. Acontece que em palavras fica simples assim, mas só eu sei bem os medos todos que um paciente oncológico envolve. E por mais uma vez a doença me passou um susto e eu continuo me perguntando: Até quando?
Sem mais delongas, eis aqui um pedaço muito grande de dentro de mim...