sábado, 29 de outubro de 2011

Mesmo que seja eu - Erasmo Carlos


Um amigo me dedicou, publico aqui:

Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão meu bem
Quando acordou estava sem ninguém
Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão
Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto pra secar seu pranto
Aumenta o rádio me dê a mão
Filosofia é poesia é o que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu
Um homem prá chamar de seu

Outro conto da noite...


Chegou em casa depois de um dia inteiro de vida. Esperou que todos dormissem. Esperou o silêncio da madrugada se instalar. Bebeu. Bebeu sozinha porque desde que havia decidido ser sozinha não havia ainda experimentado a sensação de beber consigo mesma. Pensou no dia que passou, no dia que viria, nas situações da vida e mais ainda, pensou no coração das pessoas. Recentemente decidiu desistir de tentar entender isso chamado coração.
Bebia em silêncio. Nenhuma apalavra saia de sua boca. Não só porque ela estava sozinha e os outros dormiam, não falava porque palavras ali poderiam interromper o fluxo do raciocínio. Em sua cabeça porém, mil conversas aconteciam. Mil encontros se afirmavam. Mil resoluções.
O gosto amargo do álcool servia pra lembrar do amargo que às vezes a vida trazia. Era a suave punição a qual se impunha, principalmente ao se coração, este troço mal informado e ridículo.
Pensou no quanto podemos todos sermos ridículos e se divertiu com isso.
Decidiu por uma tatuagem nova. Um piercing novo. Um cabelo novo. Isso! Começaria assim, com um cabelo novo na manhã seguinte.
Decidiu procurar pelos amigos no telefone. Alguns atenderam, outros já dormiam. Não queria nada demais, apenas sentir-se menos solitária mesmo que sozinha. Complicado explicar, era como se quisesse dizer "eu quero ficar sozinha, mas por favor não me deixe sentir a dor da solidão, pois solidão com dor dói demais..."
Assistiu na TV séries sobre coisas que não cabiam naquele momento. Quis ouvir música. Desistiu. Passou a ouvir o silêncio. A cabeça fervilhava, o álcool já acalmava e a madrugada corria. Sim! Estava sozinha. Buscava não sofrer com isso. Sentia-se uma barata solta no meio das ruas da cidade e se divertia com essa imagem.
Cascuda que era - pois a vida a fez assim - resolveu que dava conta. Era preciso o ritual solitário. Sofreu. Chorou pelas coisas acontecidas, abafou o soluço na almofada e adormeceu. No fone de ouvido Tim Maia cantava "diz que eu agora ando solitário, sem amor..."

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um conto da noite...



O dia não passara tranquilo como sempre. A inquietação do breve encontro inquietava sua alma e causava-lhe frio no estômago. Pela primeira vez, depois de tantos anos, seus desejos se direcionavam a outro e no momento não havia nada mais excitante e amedrontador do que aquilo.
Encontrou tempo para pensar em si durante o almoço e decidiu: calcinhas novas. Sim! Era preciso comprar calcinhas novas para marcar aquele momento. Esse seria o primeiro passo. O próximo passo talvez fosse fazer uma tatuagem, mas nisso ela pensaria depois.
Em casa, o banho demorado refletia a insegurança e o medo do novo. Era como se apenas ali, debaixo d'água, ela estivesse segura de seus atos. Mas foi pela insegurança que ela abdicou de sua vida anterior e agora era preciso assumir os riscos.
Cremes, cabelos molhados, óleos perfumados, depilações feitas, roupa escolhida, era hora de se aprontar pra si mesma. Afinal, aquele não era um encontro com um outro alguém. Era um encontro consigo. Ela resolvera levar-se pra passear e pra isso, era preciso enfeitar-se.
NO espelho os cílios ganhavam volume. As bochechas se coravam e os dentes eram constantemente conferidos. Era preciso causar boa impressão. Ela precisava de respostas imediatas!
Bolsa completa, era a hora do adereço final: dentro da gaveta, camisinhas guardadas de tempos antigos agora ocupavam lugar de destaque na bolsa. Seriam suas companheiras das noites e dias de solidão acompanhada. Solidão que ela buscara sem saber.
A hora marcada se aproximava. ela já sabia o que a esperava naquela noite que mal havia começado. Sentiu o medo correr pela pele como uma criança que descobre o sexo oposto. Sacudiu os cabelos e fez-se parecer mulher decidida. Por dentro, havia uma menina assustada e curiosa.
Pensou em frases feitas, movimentos possíveis, imagens da noite que ainda não começara e decidiu entregar-se à pequena barrinha de chocolate, amiga e toda mulher. Decidiu também entregar-se á vida. Isso ela já havia decidido há tempos, só não havia assumido pra si própria.
Ouviu o telefone.Sabia que era chegada a hora. Não havia como voltar atrás. E ela nem queria isso. O chocolate deu-lhe coragem. Em frente ao espelho, conferiu o batom vermelho que outrora só usava para agradar a alguém específico. Decidiu que seria essa a cor da sua vida. Pensou em um pseudônimo, mas logo abandonou a idéia por parecer dramático demais.
Fechou a porta de casa, fez um sinal da cruz e saiu portão á fora exuberante de pernas e alma expostas. Sentia-se errada, suja e estranha, asma quele misto de sensações não era nada menos do que delicioso.
Naquela noite, naquela esquina, entrou no carro alheio e decidiu que começaria ali sua outra vida. Uma outra vida talvez, mais vermelha...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Uma saudade aberta...

E entre tudo que ele poderia ser pra mim, ele escolheu ser saudade.

Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido.

Na vida, as coisas mais doces custam muito a amadurecer. Mas isso é pensamento de gente grande, deixa pra lá.

“Tenho aprendido coisas com ele. Nada muito sensacional, coisas simples, pequenas alegrias.”

“Fiquei ali parado, procurando alguma coisa que não estava nem esteve ou estaria jamais ali.”

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aos amigos, tudo!


Amigo é um bicho estranho...
Mais estranho é quando alguma coisa anda mal na amizade...

Porque o normal é tudo andar muito bem. Os amigos não tem obrigação com você. Eles estão com você simplesmente por amor. Pra mim, o amor mais bonito, muito mais que do homem pra mulher, é o amor de amigo. Porque ele é simples, e tudo que é simples é mais gostoso. O amor de amigo te poupa de obrigações, cobranças, compromissos e principalmente, no amor de amigo você pode dizer não sem que isso seja o fim do mundo.

Não há uma data de comemoração do tipo "amigo, hoje faz 1 ano e 3 meses que somos amigos!". Pra que? Comemora-se todo dia que vocês conseguem encontrar um tempo na agenda pra se verem!

Você não precisa ser amplamente simpática com a mãe dos seus amigos. Aliás, você nem precisa conhecer a mãe dos seus amigos!

Já tive em minha vida amigos que terminaram comigo! É sério! Um amigo terminou comigo! Ele terminou a amizade! Mas ele fez isso simplesmente se afastando. Esse é o mal do amor entre amigos: como não há obrigações ou compromissos, some-se sem dar notícia a qualquer momento. Eu ainda sinto muita falta dele...

Mas esse foi um caso isolado e quando isso aconteceu, busquei outros amigos que me quisessem por perto. Sempre há um colinho pra você. Sempre há alguém disposto a comprar um pote de sorvete só pra te deixar feliz. Sempre há alguém com uma casa enorme onde você possa passar o domingo inteiro olhando pro céu. Há sempre um amigo que está ali simplesmente pra segurar sua mão. Há sempre aqueles que dizem que te amam e nem precisam ouvir você dizer nada.

Eu sou rodeada de amigos. Conto com eles pra tudo. E são muitos, diferentes entre si, mas por quem tenho igual carinho.

Parafraseando e descordando de Carlos Drumond, "quem não tem amigos é quem tirou férias de si mesmo".

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma música pra mim!!!

Um amigo querido me compôs uma música linda! E eu preciso dividir com todos! A gravação será feita em estúdio e vai parar no youtube. Aqui vai a letra:

XICA, FORTE, DESTEMIDA
CANTADEIRA, TEM SORRISO
DE NOVIDADE QUANDO EXPLODE
POR UMA COISA OU POR OUTRA
TANTO FAZ, NAO TEM MISTÉRIO.,
É ASSIM.

XICA, FORTE, DESTEMIDA
TOCA COMO UMA MENINA
QUE SE ENCANTA COM O SOM
QUE NUNCA PERDE O ANDAMENTO
POIS TEM O RITMO NO SEU
CORAÇÃO.

NÃO SE ENGANE
ELA TEM UM JEITO DE QUEM MUITO SE DISTRAÍ
MAS JÁ PERCEBI QUE ELA PENSA
EM TUDO RÁPIDO DEMAIS.

QUANDO ELA SE LEVANTA
SEMPRE TEM CERTEZA PARA ONDE VAI
SE VAI VOLTAR PRA ONDE ESTAVA
É QUE NÃO SEI.

CHICA FORTE DESTEMIDA
CANTADEIRA
UMA MENINA
TOCA COMO
TEM SORRISO
NUNCA PERDE O ANDAMENTO
NOVIDADE QUANDO EXPLODE
UMA COISA OU POR OUTRA...

Meu Muito Obrigada Adriano querido!

sábado, 8 de outubro de 2011

Quando ser atriz pode incomodar...



Por mais bonito que seja, ser ator não é nada fácil. Claro, sabemos todos que não há nada fácil nessa vida e que cada um sabe bem a dor e a delícia de ser o que é, mas o fato é que atuar chega a ser, por alguns momentos, crueldade.

Massacramos nossos sentimentos, ignoramos o momento presente pelo personagem, pela arte e por N coisas que aprendemos á renunciar quando decidimos ser atores.
Não estou me queixando. Escolhi ser atriz e sigo nessa lida até que o teatro não me queira mais, mas a crueldade está na mania que o teatro tem de nos despir constantemente. Realizamos um strep-tease diário de sentimentos e sensações. Despimos-nos da realidade e entregamos sorrisos sinceros e prazeres gerais.

Nem só de enganações vive o ator, mas de todo aplauso que sai das mãos do público.
Talvez seja a capacidade de nos despir e nos entregar às mentiras que nos mantém vivos. Talvez seja a glória de, por apenas 2 horas, esquecer de tudo aquilo que existe e ser outro alguém.
Talvez seja essa confusão mental que nos impulsiona a acreditar, a levantar da cama nos dias de cão e a dizer: que seja doce!

De fato, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...”

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Entregando-me...

Avisa que é de se entregar o viver...




Escrevo pra mim.

Belo Horizonte, 4 de outubro de 2011
É preciso chover para que o próximo dia de sol seja claro e limpo. É preciso chuva para que aconteça a bonança. Não há como buscarmos claridade sem escuridão e todas essas coisas da vida têm que ensinar alguma coisa. É preciso um aprender constante senão é mais fácil não viver. Há sempre a responsabilidade sobre as pessoas que amamos. Assim como a chuva, o sentimento existe para que sejamos limpos. Adéliapradiando, sentimento é a coisa mais bonita que existe. Houve há um tempo um homem que amou demais. Amava muito no sentido de quantidade, nada se sabe sobre as intensidades de amor dele. Aqueles à quem ele amava, sentiam-se mais especiais do que antes e a partir daí desejam ter aquele amor somente para si. O homem porém, não sabia o que significava amar apenas a uma pessoa. Ele amava demais. De tanto amar, esse homem teve filhos para que a história não morresse...

domingo, 2 de outubro de 2011

Lá está ela. Mais uma vez!

Precisei encontrar-me com Caio Fernando Abreu e ele me disse isso:

“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.”