terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Em minhas urgências encontro...


Eu não sei esperar. Compreendendo isso, já vai conseguir compreender 50% de mim. Vai conseguir entender porque o horário marcado é tão sagrado quanto a Missa do Galo em Roma. Vai entender das minhas urgências de vida e que quando eu digo que quero te ver, significa "agora!" e não "qualquer dia desses".
Vai entender que a espera representa um largo espaço sem definição e que eu vivo demais pra deixar minha vida ter espaços vagos largos.
Vai perceber que é muito melhor não querer me impedir de balançar o pé na fila do supermercado ou de me irritar com as pessoas que caminham lentamente pela calçada.

Compreendendo que não sei esperar, vai saber quando eu estiver pensando em você porque na minha urgência não cabem jogos, é preciso sinceridade pra se viver. Vai me sentir por perto sempre que possível porque não cabe em mim o charminho de criar saudade. Saudade quando bate, precisa ser prontamente resolvida porque saudade é coisa parecida com morte e tudo que envolve isso dói. Sabendo que vivo como quem vive na flauta, vai entender que nada se trata de correria ou desespero, trata-se apenas de permitir-se e finalmente você percebe que tem muito a aprender comigo sobre a vida que chama lá fora.

Vai perceber que o que vale é: "fui ali ser feliz e não volto!"

Definitivamente eu não sei esperar e não sei se te esperaria sair do seu casulo pra permitir-se porque quando passo por janelas fechadas eu simplesmente passo e janelas fechadas não me retém. Frestas sim. Frestas me fazem querer ver do outro lado e quando eu acredito eu insisto e invisto mas, se for muito difícil de abrir, eu vou ter que te deixar lá fechado pra que outra pessoa abra porque pode ser que quando você resolver abrir a janela eu esteja longe demais correndo pelo campo florido que você não viu que plantei.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Por Martha



"Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor mas ... permita que eu escove os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada. ( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boca ... Goste de música e de sexo. goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia... isso a gente vê depois ... se calhar ... Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas. Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar ... experimente me amar"

Martha Medeiros

Teimando-se



Sempre foi teimosa.
Sempre deu um jeito de fazer acontecer na hora que queria. Se viesse depois não servia. Se não viesse causava um sofrimento maior do que a bomba atômica - mas só por umas horas.
Desejava demais. Sentia que o mundo devia desejar da mesma forma, assim tudo fluiria e ninguém sairia desejoso.

Não compreendia certos medos alheios: entregar-se, querer demais, pensar maldades... fazia tudo isso e muito mais. E daí? Sua cabeça funcionava rápido demais e as vezes de maneira egoísta demais. Permitia-se. Seu terapeuta também!

O problema da teimosia é que às vezes ela nos deixa burros. sentia-se burra às vezes, querendo algo sem motivo. Existiam possibilidades, opções, escolhas, mas se não fosse aquela opção desejada, nada serviria. Burra! Sabia que teimosia era sua burrice consciente.

Desejava. Encontrava-se em momento de espera. Era preciso cuidado e delicadeza pois, qualquer possibilidade que envolvia o outro exigia sutilezas...

Avisa que é de se entregar o viver...



Ela não esperava que acontecesse uma qualquer coisa dessas do coração que acontece o tempo todo com todo mundo.
Na situação que se colocara, não esperava nada demais além de coloridos alheios em noites frias. Decidiu, escolheu e abraçou a solidão e já estava certa de que seria assim por um longo tempo.
Encontrou dessas desculpas alheias que todos se encontram pra não se entregarem: trabalho, escola, família, projetos. Não, não caberia amor. Não caberia esse momento de fuga.

Mas é bem nesses momentos em que não se deseja nada, não se espera nada, que tanta coisa acontece.
Já acontecera antes e ela estava atenta aos detalhes, percebia seu coração e estava acostumada a ter longas conversas com ele em noites estranhas. Era como uma terapia solitária. Dessa vez percebia-se. Conhecia-se o suficiente pra saber onde as coisas iam parar.

Temia. E quem não teme? Mas, o medo era apenas estímulo pra se jogar. Sempre se jogava. Gostava do risco. "E se machucar?" - perguntavam - "se machucar, sara!"

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Persona-lidade.



Personalidade, no dicionário está assim: "Carácter ou qualidades próprias da pessoa."

Resolveu clarear o cabelo. Contava com opiniões diversas. Na verdade buscava nos amigos a opinião que mais queria ouvir e assim, seguia-as, seguindo no fundo, a si própria.

Saindo do salão, onde se permitiu ficar por uma tarde inteira fingindo-se de mulherzinha, resolveu furar-se. Era a comemoração pelo peso perdido, pelos fatos recentes e pelo início das férias - Aaah férias! Como ela precisava disso!

Pensou em tatuagens, marcas da pele. Desistiu, pela profissão - ser atriz já é difícil demais! Não vamos complicar as coisas!

Comprou sapatos novos. Piercings novos. Acessórios pro novo cabelo. Agradeceu, como sempre agradece, pelo dinheiro que vem da arte, por não ter que ter vida profissional dupla dividindo-se entre o palco e um balcão. Era uma artista, cada vez mais completa. Das luzes e do aplauso vinha aquele dinheiro e orgulhava-se disso relacionando com sua origem pobre e humildade ímpar.

Foi pra casa com ar altivo que só as pessoas plenas conseguem. Não dá pra ser plena sempre. Nos dias em que se sentia menos gente, preferia o anonimato de uma aparência comum, por mais difícil que fosse se esconder. Na maioria do tempo, gostava mesmo daquela aparência difusa que lhe conferia o elogia de "exótica".

Pelo caminho, uma música acompanhava: "vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo..."

domingo, 4 de dezembro de 2011

Reencontrar-se-lhe



Preparou-se para o reencontro desde o dia da despedida.
despedida era coisa da qual era entendida. despediu-se muito da vida, muitas vezes de si mesma. Não por tentativas clichês de suicídio pois amava demais sentir-se pulsando para querer morrer-se. Despedia-se das fases da vida que precisam ser vividas e abandonadas; despedia-se dos presentes que ao longo do tempo perdiam o valor e só ocupavam espaço; despedia-se do dia passado abrindo-se para a manhã seguinte.
Acreditava - e ainda acredita - que quando fechamos a mão pra agarrarmos forte alguma coisa, não deixamos entrar coisas novas. Por isso, mantinha-se aberta, mãos e peito.

Enfim, o reencontro próximo fazia com que ela repensasse sobre assuntos que ela tinha trancado na gaveta, gaveta que, pensava ela, nunca mais abriria. Mas é certo dizer que, se ela realmente não quisesse mais ter contato com aquilo, não teria trancado numa gaveta e sim, jogado fora ao vento como fazemos com lembranças ruins.

O fato é que estava preparada para tal reencontro. Passou todo período de afastamento cuidando de si, experimentando, tratando feridas, fazendo curativos, ignorando-se, amando. Sentia-se pronta, enfim.

Abriu os braços e sentiu o abraço conhecido e saudoso. Aqueles braços que sempre a acalentaram, sempre foram tão presentes que pareciam parte dela. Sorriu por dentro, apesar de preferir manter as aparências de que tudo andava normal como sempre. Sentia-se feliz. Novamente conviver era possível, divertir-se era possível e sentir-se amada também.

Amor... sentimento que resolvera rejeitar de qualquer outro que não fosse ele. Com os outros era uma-qualquer-coisa, um gabiru, um flerte, a presença deles nem fazia tanta diferença. Com ele a coisa era outra.

O reencontro aconteceu e passou. outros reencontros aconteceram, conversas profundas se desenrolaram. Hoje podiam olhar nos olhos um do outro. Tanto sofrimento, tanta dor foi preciso pra que ficassem tão... leves!