quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na mesma máscara...




Sim, a vida do ator é muito disso tudo que dizem: diversão, loucura, amores, intensidade... Isso porque trabalhamos com o que gostamos e colocamos a alma naquilo afinal, o ator sempre põe sua alma à frente.
Porém é apenas quase, quase tudo o que se parece. Existem os segredos expostos que todo mundo sabe mas que fazemos questão de esquecer. Ou encontramos um falso conformismo e aceitação do tipo "o que tiver de ser, será...". Puras mentiras. Puro teatro. A insegurança da profissão é algo que sempre incomoda, consome e traz a vontade de desistir, de reoptar, de se reprogramar como se pudéssemos dizer: a partir de hoje não serei mais ator!

Sinceramente, ex-ator pra mim é como ex-gay. NÃO EXISTE!

É um universo tão intenso (o do ator, o do gay conversamos depois) que faz a gente perceber o mundo de outra forma, como se houvesse uma lente grudada aos olhos que faz com que as sutilezas da vida ganhem nova cor. Excesso de paixão? Talvez... Mas os atores que tentam se desvencilhar dos caminhos injustos do teatro, quase sempre terminam infelizes...

Tanto e tanto amor não são o bastante pra nossa auto-suficiência. E quando ser o bom ator, aquele que é disciplinado, esperto e competente não é o suficiente? Posso falar? Nunca é. Porque não nos alimentamos de luz do palco, não comemos cenários e nem pagamos ônibus com pequenas cenas de monólogo. Talvez seja essa a evolução do ator: se alimentar da luz dos refletores. Ou do aplauso da platéia. E nosso trabalhos será moeda de troca por onde formos.

Não... isso nunca vai acontecer. Pura ilusão. Você que me lê e que não é ator, você que faz faculdade de qualquer outra coisa exceto Teatro, quando você se formar você tem pra onde enviar currículo? Tem perspectiva de salário? Vai ser um bom profissional pra se sustentar na sua área? As respostas pra essas perguntas quase sempre serão "sim". Pro ator sempre será um "não sei".

Não temos lugar próprio pra envio de currículo e nossos currículos não poderiam ser enviados pra qualquer lugar pois o que possuímos são currículos artísticos e esses, não servem pra outras profissões. Não possuímos perspectivas de salário e tampouco sabemos se a grana dos palcos ode um dia nos sustentar (a não ser se estivermos em cartaz com 6 espetáculos diários pra todo sempre...)

Já parou pra pensar que quando você vai curtir o fim de semana, quase sempre você se depara com um ator? Seja no cinema, no teatro ou quando fica de bobeira na TV. Toda a série de TV que você gosta possui atores. Todos os filmes que você ama não seriam possíveis sem os atores. E já parou pra pensar por onde andam essesa atores quando a gravação de um filme acaba? Ou quando um espetáculo termina? Pior: já imaginou como pode ser difícil pra um ator se divertir caso ele não queria ver atores em lugar nenhum? Somos nós que te divertimos e quase nunca fugimos de nós mesmos...

Tenho medo disso tudo. A insegurança é companheira tão constante que todo dia eu mudo minhas perspectivas. É fato: pra ter grana e se dar bem o ator tem que ser bom! Mas bom o que? Bom ator? Músico? produtor? Cenógrafo? Iluminador?...

São tantas as funções em um teatro e a grana é tão injusta que em todos os cantos existem os atores-alguma-coisa. Ator-cantor, ator-músico, ator-produtor, ator-garçon, mas ator-ator, daqueles que vivem pra atuar, esses estão cada vez mais raros pois a situação está cada vez mais difícil.

Pior ainda é pra nós, atores feios que não possuem perfil de Tv. Nós que abraçamos o teatro por vaidade às avessas e/ou por amor, ficamos perdidos entre tantas opções de ser ator-alguma-coisa. Eu particularmente sou atriz-tudo. Não só por acreditar que o ator deve ser completo, mas também porque na vida que escolhi, onde é somente arte o que sei fazer, não é muito que me resta...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Esses vinte anos...


"Ontem de manhã quando acordei
olhei a vida e me espantei
eu tenho mais de 20 anos..."

E o susto da idade me acompanha desde sempre. De repente 12, de repente 15, de repente 20, hoje 23... E o que eu tenho até então? Um currículo fantástico e muitas incertezas profissionais...
Uma família linda e a falta de um pai...
Um amor...
Tenho medo. Medo da idade. Medo da velhice. Da solidão. Do tempo que afasta as pessoas, leva os amigos, o amor...
Tenho medo dos 25 anos. Medo de não ser quem eu quero. De não ter o que mereço. Pois na vida, inegavelmente, queremos mais do que ser, queremos ser e não há desapego que justifique esse querer inato.

Eu quero. Sempre quis. Quero uma casa grande com muitos cachorros. Quero uma fazenda pra envelhecer. Quero ser uma grande atriz, uma grande produtora, uma grande cantora(o que faz o artista nas horas de folga quando as opções são as artes pra descansar?)... Quero ter e ser muito do que não sou. É preciso dedicação e tempo, mas eu quero já!

E não quero rugas porque meu medo da velhice também está aí: essas malditas dobrinhas de pele que se alastram feito praga! Começa no canto dos olhos e escorre pelas extremidades e quando voltamos a nos olhar no espelho somos apenas maracujás...

Confesso: tenho medo da morte. Mais do que isso, tenho medo do que acontece na vida. Que eu alcance de forma urgente tudo que preciso e mereço, senão eu me entrego ao tempo e volto a ser poeira...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Casamentando...


... Então, depois de tanto tempo dividindo tudo, morando juntos e convivendo, ela pede o casamento. Pede não! Ela exige o casamento como oficialização daquela união que já caminha tão bem do jeito que está. É como se ela estivesse na padaria comprando pão e, cansada de comer sempre o mesmo pão branquinho, optou por um pão preto. Mas ela, somente ela, não percebe que é muito mais do que variar o café da manhã. Quando se casa se assina um acordo de paz, onde marido e mulher ficam livres das obrigações de conquistar o parceiro, de se manter bonito e atraente, de se preocupar com a evolução da relação. Não se precisa mais de surpresas ou de agradinhos. Quando se é casado tudo é devidamente calculado e só acontece aquilo que está previsto no orçamento. são os "planos pro futuro". Mas não haviam planos pro futuro antes disso? Aqueles que eram feitos à sombra da árvore contando estrelas?...

Ele diz que não. Pra ele essa história é uma grande bobagem e o gasto de dinheiro poderia ser usado pra uma viagem à dois. E pra que assinar e documentar aquilo que já está mais do que resolvido entre o casal? Pra satisfação alheia? Que se satisfaçam de curiosidades, de inveja, de recalque e não com a comida paga com o dinheiro da viagem à dois! Depois do pedido de casamento de um casamento que já existe, o não é indizível, impiedoso e impossível. Ele nada mais diz, só pensa que não queria ter que documentar o sentimento. Não pretende se apossar do subjetivo. Ela se deleita em revistas de noiva, músicas e igrejas. Ele só queria dizer que a ama demais pra se casar com ela, pois o amor não se pode patentear e documentação nenhuma de padre ou tabelião pode resgatar o gostinho da liberdade de amar perdida...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Feriando-me.



Acordar no meio da manhã e espreguiçar-se.
Olhar pro relógio e descobrir que o início da manhã já se foi há muito tempo.
Perceber o corpo pesado e lembrar que esse o primeiro dia do feriado prolongado!
Tatear ao lado da cama e sentir o amor por perto.
Espreguiçar feito gato na esteira e deixar-se dominar pela preguiça.
Dormir de novo. Reacordar. Curtir aquele gosto de dorme-acorda.
Resolver levantar-se antes que a cama te trague de volta.
Observar aquele que ainda dorme pesado ao lado.
Caminhar para o banho como quem vai pro Spa.
Sentir aquela água que despela no corpo ainda gelado pelo frio.
Pensar no que comer, no que vestir.
Comer pra que? E vestir-se então? É feriado. Hora de não pensar.
Hora de dispensar o relógio, o celular, o email urgente.
Hora de dispensar-se e orientar-se pelo sol. A vontade guia.
Enquanto isso o amor ao lado dorme pesado o sono dos justos...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Receitando-me.




Afogando-me em Caio Fernando Abreu...
É sempre assim, vira e meche me aparece um sujeito, banda, música, livro, história, projeto que me encanta e passo a segui-lo diariamente, como se na receita de minha vida eu precisasse de buscar especiarias sempre frescas, sempre intensas, de sabor ora áspero, ora doce demais.

E nos dias que se seguem o paladar vai ficando cada vez mais exigente e pedindo sabores cada vez mais fortes. "Ei garçon, por favor me dá uma pitadinha de Martha Medeiros e 100 gramas de Mário Quintana por favor." Esse é o pedido dos dias doces de quindins.

Quando não peço logo um Lupcínio Rodrigues para não só colocar os pés no chão, mas para afundá-los de vez na lama. Uma dose de sofrimento não faz mal a ninguém...

E é assim, sofrendo, amando, adocicando que minha receita vem sendo montada. Oresultado final eu nem sei garantir, mas o processo leva muita doçura, algumas certezas e grandes quantidades de amor...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O dia segue em tristezas...

Amar um animal serve pro bem e pro mal da gente. Passamos a ser muito mais humanos e com isso, sofremos de forma amarga pois ser humano dói...
Seguindo meu caminho normal matinal – de casa pro trabalho – avistei um cachorro marrom parado na rua. Não era bem no meio da rua, era na pista da direita bem no caminho de todos os carros, motos e caminhões. Ele estava sentado, mas não reagia à nada. O carro da minha frente buzinou, passou perto e o cãozinho nem se moveu.

Parei a moto bloqueando o caminho dos carros e olhei pro bichinho. Ele estava sentado, era magro de despertar dó em quem visse, era cego e sua barriga estava aberta. Não consegui entender o quer realmente era aquela abertura na barriga. Parecia um câncer em carne viva, ou uma inflamação gigante exposta. Desesperada e ainda sinalizando para os carros desviarem (era uma rua movimentada e eu estava sozinha) eu não sabia como pegar aquele amigo. Alguém que passou por mim disse “tome um jornal pra não colocar a mão nele e se sujar”. Claro. Era o certo. Mas o que me custava oferecer um contato humano para aquele bichinho que padecia? O pobre nem devia se lembrar do que era uma mão amiga...

Sem saber como, segurei-o pelas patas dianteiras e levei-o até um cantinho com grama do passeio. O que mais eu podia fazer? Era um dia de trabalho normal, eu estava de moto e chorava sem parar. Eu queria chamar um táxi, levá-lo ao veterinário e ajudar de fato. Eu queria levá-lo pra casa. Eu queria ficar perto dele até que melhorasse. Covarde que fui, nada disso eu fiz. Um taxista não ia querer um cachorro doente no banco traseiro. Nenhuma clínica ia aceitar ficar com ele e eu não teria dinheiro pra pagar nenhum remédio pra ele. E não teria pra onde levá-lo. Covarde. Me senti a mais covarde dos humanos. Na minha covardia implícita o cachorro me olhou. Ele me agradeceu. Eu só podia tirá-lo da rua e foi o que fiz e ele ainda me agradeceu. Deixei-o lá, lambendo as feridas.

Saí de perto e segui por todo o caminho com olhos embaçados de tanto chorar. E ainda agora escrevendo choro de lembrar. Aquele cachorro um dia foi um lindo filhote que todo mundo queria pra si. Que malditos humanos ele encontrou no caminho pra estar velho, doente e abandonado na rua? Era um Cocker. Desses de orelhas fofas. Mas em si, ele não conservava nada de fofo. Olhando pra ele eu vi toda a tristeza em forma viva e isso foi um chute no estômago.

A lembrança dele vai me acompanhar e eu tenho certeza que quando for embora vou lá naquele mesmo lugar ver se ele ficou lá. Se ele estiver lá, foi pra me esperar. E eu não vou ter mais nenhuma covardia pra tirar do armário...

PRO FAVOR! FAÇAM ADOÇÃO CONSCIENTE! NÃO ADOTEM UM ANIMAL PENSANDO QUE ELE SERÁ FILHOTE E FOFO A VIDA TODA! ELE VAI ENVELHECER, VAI FICAR DOENTE, VAI DESTRUIR COISAS SUAS! SE NÃO PRETENDE PASSAR OS PRÓXIMOS 10 ANOS COM UM CÃO, NÃO ADOTE!!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

" A luz que eu vi naquele dia escuro e ruim..."
Mesmo depois de palavras jogadas feito flechas, olhares de fogo que cortam e rispidez ao caminhar, o sol surge.
Parece impossível que haja sol após a tormenta, mas ele surge por trás de nuvens bem grossas e brilha pra você.

Deixe sua luz sair pra que a luz de outro alguém entre.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Amor, muito amor!!!

Estudantes de uma escola de Governador Valadares rasparam a cabeça em solidariedade a um amigo de classe que está passando por sessões de quimioterapia.
Tem coisa mais linda nesse mundo? Esses meninos mereciam um prêmio! Um Oscar! Um troféu gigante!
Eu, como paciente oncológica e boba que sou, chorei igual boba ao ver o vídeo.
É isso gente! Mais e mais amor! Quem está em tratamento, independente da doença, convive com hospitais frios e pálidos, pessoas estranhas te tocando sempre, seringas enormes pela manhã. Qualquer abraço, qualquer palavra te faz se sentir especial em meio aquele tanto de finais terríveis sobre as macas.
Agradeço a todos que ficaram comigo no hospital. Agradeço aos que me visitaram. Agradeço aos gestos, presentes e carinhos que não me deixavam ficar tristes.
Agradeço também a São Jorge que esteve lá comigo por uma imagem ganhada da minha mãe.
Amor gente! Isso é que é amor!!!

O próprio amor próprio


Caetano Veloso já disse “e pra começar, eu só vou gostar de quem gosta de mim”. E é preciso cuidar de si. É preciso lavar os cabelos como um carinho longo. É preciso abraçar-se às vezes. É preciso ouvir-se. Um espelho te ajuda a se enxergar, mas para se ver de verdade é preciso fechar os olhos, olhar pra dentro. Buscar feridas abertas, contar com cicatrizantes caseiros. O tal amor próprio às vezes some e quando a gente percebe estamos chorando por alguém em um copo de cerveja. Chorar por alguém? Ah vá! Chore pelas suas perdas, pelas suas conquistas, pela sua necessidade de ir trabalhar enquanto o que você mais queria era estar na cama as 6:00 da manhã. Mas não chore por alguém. Se alguém te faz chorar é porque não é bom o suficiente. O verdadeiro amor é regado a sorrisos. Claro que nesse ínterim há desculpas sorrateiras, dedos laçados pós-briga e acerto de contas de portas fechadas e corpo abertos. Mas se isso se repete - e trepete - é sinal de que o amor pelo outro é tanto que seu amor próprio saiu correndo pra se esconder do armário. Tire-o de lá! Tire o pó e recoloque-o na estante. É preciso amar-se para sentir-se amada. Por você e pelo outro.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nunca diga não pra mim, eu não vou saber...

...

...Então, naquele momento crucial em que você me dizia “não”, eu vi uma noite inteira de carinhos e cuidados desmanchando como água jogada na tela com tinta á óleo. Era como se não fosse você. Era um alguém desconhecido que me dizia não. Um não nunca ouvido é como uma ofensa. Eu me ofendi. E tentei a todo custo te fazer dizer sim. Eu disse “então passa por cima!” e você passou. Chorei baixinho, depois chorei cada vez mais alto e nem o pranto de maquiagem no travesseiro te amolecia. Até que eu pedi. Pedi que ficasse comigo. Um pedido sentido como um último fiapo que segurava o laço. Sem palavras, sem gestos e sem demonstrações, você ficou. Não havia um consentimento escrito. Não firmávamos um compromisso ali. Apenas sabíamos que o choro chegava ao fim...