segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quando a saudade não cabe no peito, transborda nos olhos.




"Belo Horizonte, 25 de julho de 2011

Meu querido e velho pai,

Não é assim que você sempre se referia à você mesmo quando queria fazer um drama?
Escrevo pra contar que de alguma forma seus netos vão ficar um pouquinho mais perto de você: Agora você virou praça.
Sabe aquele cantinho jogado no meio da Via Expressa que você adotou, construiu pista de caminhada e jardim e deixou que todos usufruíssem? Pois é, aquele cantinho virou uma praça de esportes oficial com seu nome: Praça Messias Tadeu Galvão.
Agora a Flor pode dizer que foi numa espécie de "casa" do vovô.
O Daniel pode se gabar de ter um avô eternizado. E pode contar vantagem quando alguém disser "Vamos pra praça?" e ele dirá "qual praça? A do meu avô?".
Podemos passar por ali pra ver se você aparece. Eu juro que vira e meche eu ainda te procuro quando ando por ali.
Você sabe que por mais certeza de que você não está aqui, sempre especulamos que na verdade você resolveu sumir no mundo depois dos filhos crescidos e vagar sem rumo. Eu ainda espero na total certeza de um dia depois das 11 da noite você bater no portão la de casa e responder "sou eu minha fia!" como se nada tivesse acontecido...

Outro dia a Flor te chamou. Queria saber se ela te viu. Ela dizia pra mim "Tia Júlia, você tá muito bagunceira, vou contar pro seu pai que tá lá na sala!" Eu gelei com a certeza doce de que você passou por ali...

Não há um dia sem saudade, não há uma festa sem lembrança.
E quando eu te encontrar eu vou te dar um cocão por você ter ido embora tão cedo!

Essas sao as boas novas. Ainda não fui na sua praça pois não estou preparada pra passar um dia inteiro chorando. Mas irei em breve. Você estará lá? Espero que sim...

Com amor, Júlia."

terça-feira, 19 de julho de 2011

Bem que esse relógio podia congelar um pouquinho...



Ando faltosa, ausente, ocupada, estressada.
Eu tenho colo pra me confortar.
Tenho cama pra descansar.
Tenho praças e parques e ar livre por aí que me espera sem pressa.
E eu correndo pro lado contrário. É o medo...
Medo desses 23 anos que já parecem 30. Medo dos 18 anos que passaram e não voltam...

Corro pra dar um jeito de ter tudo que quero antes que seja tarde demais...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Conversa de téte-à-téte com o Mussunzinho


Numa dessas tardes folgosas e raras onde o frio, o cobertor e a pipoca são seus amo e senhores, fui pra casa. Zapeando na TV parei no programa maldito: o da Sõnia Abrão. Mas o que me prendeu lá não foi a cara da Sônia e sim o assunto do dia: "Mussunzinho está deprimido e pede ajuda pra voltar pra TV". Confesso, eu fiquei hipnotizada. Pra quem não sabe quem diabos é esse Mussunzinho, ele é o filho do sen-sa-cio-nal Mussum e foi através de um programa da mesma Sônia Abrão que o Brasil o conheceu. Na época ele foi pedir ajuda pra trabalhar na televisão pois ele e a mãe estavam prestes a serem despejados de casa. Na época ee era uma criancinha e cantou, dançou, fez cena, chorou e etc. Deu certo! A Glória Perez (aquela escritora do Clone) o viu e o convidou pra novela (não me perguntem o que a Glória tava fazendo vendo o programa da Sônia!...) e daí em diante foi outra novela, contratos e etc.

Passa esse tempão todo e eu ligo a TV pra ver o Mussunzinho (que hoje deveria ser chamado pelo nome próprio porque nem criança ele é mais)fazendo a mesma ceninha mequetrefe de ir pra um programa apelativo pedir pra fazer TV. ORA BOLA E CAMBALHOTAS! Seu Mussunzinho, eu tenho umas coisinhas pra te dizer, senta aí!

Primeiro: NO programa você disse que não queria contrato pra ficar na geladeira de uma emissora, você queria trabalho. Pois bem, se você realmente fosse ator não diria tanta bobagem, sabe porque? Porque ser ator não é melzinho não, querido! É preciso muita paudurecência pra conseguir permanecer vivo com nosso dinheiro merreca! E você vem me dizer que tem salário fixo mas ta ruim?! PQP! Fica quietinho com seu salarinho (que não deve ser de 540,00) e vai fazer teatro! Vai trabalhar! vai ser ator de verdade! Aaaaaahh não, me esqueci, você é aotr de novela né... Nunca fez teatro... Então vamos entrar na minha segunda observação.

Segundo: Você não é ator, querido. Quer dizer, você é, mas você e uma tor fraco e e perdedor. Não porque a vida te deu uma rasteira, mas porque você fica mendigando espaço na mídia enquanto podia merecer ser ator. Porque palco, chão, exaustão, Brecht, Pirandelo, Commedia del'Art e esses nomes estranhos fazem parte do trabalho do ator e eu aposto que você não conehce nada disso. Vai estudar meu filho! Vai procurar uma dessas tantas escolas boas de teatro pelo Rio e vai ser ator de verdade. Esse lance de genética já tá batiiiido... E aí entra minha terceira e última observação.

Terceiro: Seu pai foi foda. Claro que foi. No seu lugar eu também traria a imagem dele no peito. Meu pai foi um pé rapado e ainda assim eu me orgulho dele! Mas ficar usando o nome e a imagem dele toda hora é chaaaato... É tão piegas e cansativo que você fica pobre e frágil e essas características não são boas pro ator. Cresça por conta própria. Seu pai veio do nada e ninguém esquece dele. Aproveita a história de vida dele e não a imagem. Isso tá cheirando à exploração barata e o Brasil já sacou isso... O povo fica babando teu ovo, falando do seu talento, sua genética favorável, pois eu vou te dizer uma coisa: Tudo isso é mentira, genética de cu é rola e você é uma ator mediano. Pode ser bom um dia, mas hoje, você não passa de uma sombra.

Ser a tor não é nada fácil, nem pra quem tem pai artista! É preciso paudurecência SIM! E se você fosse ator, conheceria isso muito bem!...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O que não cabe no peito sai nos olhos...


Andei sentindo saudades, mas ainda não entendi bem o que chega a ser sentir assim.
Uma mistura de “solidões”? Um buraco mal tapado?

Nem foi a saudade de amigos que me levou a escrever. Sobre esses já escrevi antes e vou escrever depois. A saudade matadeira que vira e meche invade o peito é saudade de pai...

Um dia contei uma história pra Flor dormir que era assim: “Era uma vez um menino que nasceu muito pobre e cego. Ele só passou a enxergar aos cinco anos e deve ser por isso que ele nunca mais quis se sentir preso e perdido novamente. Esse menino cresceu trabalhando, viveu trabalhando, teve filhos trabalhando. Nunca foi a escola, morou na rua e passou fome, mas nunca matou nem roubou ninguém, apenas se consentia com o peso da vida lhe pesando nos ombros. O tempo passou, esse menino virou um homem muito bom que tentava dar a todas as crianças de seu caminho aquilo que ele não teve: Atenção, sorriso um pouco a mais do que comer. De tão bom esse homem foi coroado Rei e seu reinado foi curto porque nessa vida existe gente que só vem ao mundo pra fazer alguém chorar. O moço foi enterrado ao som de tambores tristes e choros doloridos de adeus...”

Claro que eu chorei. E ela me olhava com aqueles olhinhos infantis de não entender porque a história desse moço fazia o olho da Tia Júlia soltar água...
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(((não quero nunca sentir saudade de mãe)))
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"Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor..."