quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Conto do dia e da noite.



Experimentava, ela.
Resolvera experimentar qualquer situação que a vida lhe oferecesse e que parecesse boa. Às vezes não eram, mas só experimentando pra saber.
Aprendera em um cursinho de teatro onde estudara na adolescência que era preciso experimentar todas as propostas antes de negar. Resolveu levar pra vida.
Andava fazendo experimentos emocionais. testava seus limites: até onde consigo não me envolver?

Resolvera entrar pelos caminhos estranhos do coração. Coração que a acompanhava desde sempre, mas que ela pouco conhecia. Como se fosse uma cirurgia cardíaca, resolvera abrir o coração e enxergar veias, músculos, quartos escuros de dentro dele.

Começando pelos amigos, observou quais seriam aqueles que seriam pedaços de si própria. Encontrou alguns. Se enganou algumas vezes, passou algumas sextas-feiras sozinha esperando o telefone dar sinal de vida. Não deu.
Vestia-se divinamente para si própria. Resolvera então não esperar ninguém com quem pudesse sair. Vestia-se lindamente para si própria e divertia-se sozinha. Dançava, atraia olhares, ao mesmo tempo, atraia espantos. "Homens tem medo", pensava ela, enquanto dançava com seus cabelos de fogo.

Depois resolveu experimentar homens. Em sua lista, todos os tipos, esboços e definições de homens possíveis. Pensava em todos. Aceitava todos. Fazia isso por si. Se entregava em uma relação relâmpago onde na verdade, a busca era por ela própria. Queria namorar consigo mesma mas, para isso, era preciso outro corpo. Utilizava corpos aleatórios e divertia-se quando já se encontrava sozinha.

Sozinha... Há tempos resolveu separar "sozinha" de "solitária". Em momentos onde o ser solitário surgia, desligava telefones, internet, televisão, afogava-se em doces e dormia ao som de Tim Maia. Em momentos que o ser sozinho ganhava força, enfeitava-se, amava-se e compreendia que nessa vida tudo é uma fase. E que a fase agora é de compromisso consigo própria.

Ao fim do dia,conferia no caderninho...