sábado, 29 de outubro de 2011

Outro conto da noite...


Chegou em casa depois de um dia inteiro de vida. Esperou que todos dormissem. Esperou o silêncio da madrugada se instalar. Bebeu. Bebeu sozinha porque desde que havia decidido ser sozinha não havia ainda experimentado a sensação de beber consigo mesma. Pensou no dia que passou, no dia que viria, nas situações da vida e mais ainda, pensou no coração das pessoas. Recentemente decidiu desistir de tentar entender isso chamado coração.
Bebia em silêncio. Nenhuma apalavra saia de sua boca. Não só porque ela estava sozinha e os outros dormiam, não falava porque palavras ali poderiam interromper o fluxo do raciocínio. Em sua cabeça porém, mil conversas aconteciam. Mil encontros se afirmavam. Mil resoluções.
O gosto amargo do álcool servia pra lembrar do amargo que às vezes a vida trazia. Era a suave punição a qual se impunha, principalmente ao se coração, este troço mal informado e ridículo.
Pensou no quanto podemos todos sermos ridículos e se divertiu com isso.
Decidiu por uma tatuagem nova. Um piercing novo. Um cabelo novo. Isso! Começaria assim, com um cabelo novo na manhã seguinte.
Decidiu procurar pelos amigos no telefone. Alguns atenderam, outros já dormiam. Não queria nada demais, apenas sentir-se menos solitária mesmo que sozinha. Complicado explicar, era como se quisesse dizer "eu quero ficar sozinha, mas por favor não me deixe sentir a dor da solidão, pois solidão com dor dói demais..."
Assistiu na TV séries sobre coisas que não cabiam naquele momento. Quis ouvir música. Desistiu. Passou a ouvir o silêncio. A cabeça fervilhava, o álcool já acalmava e a madrugada corria. Sim! Estava sozinha. Buscava não sofrer com isso. Sentia-se uma barata solta no meio das ruas da cidade e se divertia com essa imagem.
Cascuda que era - pois a vida a fez assim - resolveu que dava conta. Era preciso o ritual solitário. Sofreu. Chorou pelas coisas acontecidas, abafou o soluço na almofada e adormeceu. No fone de ouvido Tim Maia cantava "diz que eu agora ando solitário, sem amor..."

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