terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Atriz sim. Mas porque?


Em meio aos tumultos de ensaios, coreografias, figurinos e maquiagem inacabada enquanto o público entra, eu me pego reparando nessa vida que escolhi. Ainda há um quê de mágico no teatro sim. Mesmo com produtores burros e atores improvisados o espetáculo ainda resiste. Estou morando num teatro. Eu que quis assim. Não aceitaria sair da minha cidade sem ser atriz aqui. O teatro não foi bom pra mim durante muito tempo, mas agora ele resolveu me sorrir. E é um riso largo e falso, onde mantenho um pé só. O outro fica bem do lado de fora. É com isso que eu pago contas. Com isso que eu como. Mas não é pelo dinheiro que eu continuo. O ator tem essa vaidade exacerbada que só o palco consegue controlar. Eu faço teatro pra ser vista, porque sou apareceida de natureza e exibida desde o berçário. "Olhem pra mim! Gostem de mim! Venham me ver!" meu corpo pede. Mas minha boca cala. Tudo isso só se nota na imensidão dos 450 lugares. A vida de atriz é feita de momentos. Minha mãe vai me ver no espetáculo e, quando eu saio porta à fora, sem maquiagem e figurino, seus olhos faltam gritar às pessoas do saguão: "Gente, essa aqui é minha filha que voc~es viram lá no teatro agora!!" Mas ela não grita. Somente seus olhos. Assim como os olhos do meu irmão que me admira num fanatismo calado. Assim como minha irmã que em nada se abala, mas que fala de mim como filha. A única que fala, grita e sorri é minha Flor: "Eu te vi dançando." "Eu te vi cantando". "Eu te vi lá dentro." "Eu fiquei com medo." Eu também Flor. O medo dela é das cabeçonas e figurinos de pelúcia do teatro infantil. Meu medo é desse mundo de fantasias um dia deixar de ser minha realidade. Muito prazer, eu sou a cigarra, a mosca, a senhora de 70 anos, faço faxina e viro Dalva de Oliveira. Prazer, Júlia Borges, atriz de mim mesma.

Um comentário:

  1. Você foi lá, me visitou, e eu fiquei me perguntando: "Será que ela continua fazendo teatro"? Fico muito feliz que sim! Eu agora só atuo pra fazer graça pra Aurora, mas tem sido um trabalho tão bem remunerado... =) Beijos, Julia!

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