quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O velho e o moço.

...Acima de tudo é preciso amor além da paixão. Sempre é a paixão que vem primeiro, que traz a atração e que mantém aquela vontade de ficar cada vez mais junto. É ela quem abre espaço e prepara o terreno para que o amor se instale. Pensando em imagens, o amor é uma rede esticada entre dois coqueiros na praia, onde nada mais fazemos do que ouvir o barulho do nosso cabelo crescer. A paixão, com toda sua estupidez, é uma criança mal-criada. Não respeita limites, faz o que quer, tem vários rompantes, faz pirraça, erra só pra pedir desculpa. O amor é um senhor mais velho, grisalho, contador de histórias que reúne as pessoas à sua volta para conversar. A paixão não sabe ver uma cosia quieta em seu lugar sem ir lá pra atazanar. Ela meche com os brinquedos alheios, corre até se cansar e quando descansa, seu descanso dura poucos minutos, depois ela recomeça. O amor, com toda sua calma e segurança, dorme todas as longas noites, vive todos os longos dias, faz cada coisa na sua vez. A paixão come sorvete com batata frita! Mistura requeijão com manteiga num biscoito só! O amor sabe o que comer e quando comer e cada refeição é um momento especial.

Mas a paixão vive às turra com esse tal de amor. Quem ele pensa que é pra chegar mandando? Como ele traz paz num ambiente onde antes só ela tomava conta e fazia o que bem entendia? Agora com o amor, tudo é combinado. Não existem brigas aos berros na frente do portão. Não se atravessa a cidade só por um beijo. O telefone não toca de madrugada só pra ouvir uma respiração. O amor faz isso quando o dia nasce. Ele espera a oportunidade do encontro para que seja duradouro. Ele exige muito tempo e dedicação. Migalhinhas de amor não servem, só funciona o amor inteiro. Com ele existem os banhos de chuva, o suspiro aliviado, o brilho do olho constante. O amor é quem permite que exista o silêncio do entendimento, a saudade mesmo na presença, certeza mesmo na inconstância. Um desentendimento não significa o fim, são apenas briguinhas de amor. O amor corta as fantasias incoerentes da paixão e mostra o real, o defeituoso, o clichê, o quão chato pode ser amar, dividir e partilhar com alguém. A paixão quer todos, o amor quer um. A paixão é mimada e exigente, o amor espera.

É preciso amor pra poder pulsar.

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