quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Atropelamento do Atropelado


Estava eu a caminho do trabalho, passando pelo Anel Rodoviário, quando em uma curva estreita na saída para o bonito bairro Palmares me acontece essa situação: Eu passei por cima de um frágil corpo de um animal que já estava atropelado no asfalto. Situação que pode ser amena para alguns, mas que de fato nunca me aconteceu antes! Foi bem na curva, todo motoqueiro – e talvez motorista - sabe que não dá pra adivinhar tudo o que se encontra nos asfaltos por aí, às vezes um carro que está na sua frente esconde um buraco iminente que muitas vezes não conseguimos desviar e lá vamos nós perdendo os amortecedores. No meu caso, o carro da frente encobriu o corpinho do bichinho então passar por cima foi inevitável! E tudo acontece tão rápido e pensamos em tantas coisas:

A)Eu estava no Anel Rodoviário! (Belo-horizontinos e contagenses sabem o quanto ele é perigoso).
B)Um desvio poderia levar a uma queda, e isso me levaria à morte (era o Anel Rodoviário!!!)
C)Eu teria que passar por cima de um pobre animalzinho já morto sofrivelmente
D)Passar por cima dele espalharia sangue e vísceras que atingiriam meu pneu, paralama, sapato e calça! (eca!)
E)Passando por cima dele eu teria que manter o equilíbrio, pois para a moto, isso seria tão perigoso quanto aquaplanagem – e imagina que nojo cair em cima do bicho estatelado!

E diante disso tudo, assustada e pesarosa depois de pensar tudo isso acima em 2 segundos, eu passei por cima dele. SIM, EU PASSEI! Eu que tenho pra mim que animais são melhores que as pessoas! Eca, tadinho, ai de mim, ai de nós!

Entrei em pânico!! Segui meu caminho gritando, chorosa, apavorada, emitindo grunhidos que dava pra ouvir através do capacete. Quando eu entro no bairro citado, ainda apavorada, eis que me surge uma blitz de moto! Oh God! Era o que me faltava! Eu estava prestes a ter um infarto nesse momento. Não gosto de blitz, não pelas multas e tempo perdido, mas pela enorme falta de educação e grosseria da parte dos militares (quem conhecer um policial educado levanta a mão!). O guarda fez sinal - Eu ainda estava fora de mim por causa do incidente com o bicho no asfalto – eu parei e pulei da moto saindo de perto dela. Tirei o capacete e ele viu minha cara de choro, com o cabelo amassado enquanto eu tremia. Com certeza ele pensou que aquela moto era roubada! Antes de mais nada olhei pra ele e disse:

-EU ACABO DE ATROPELAR UM CACHORRO ATROPELADO! E caí no choro! Foi meu descarrego, eu precisava desaguar aquele momento, só não escolhi o ambiente propício...

Ele perguntava: “Onde foi”, “quando” até que ele começou a dizer “calma”, “senta um pouco”.

Eu prolixamente tentava explicar que foi na saída do Anel, que foi sem querer, que foi horrível, que alguém tinha que ajudar o pobrezinho do bicho. Sentei na calçada, entreguei meus documentos pra ele e coloquei a cabeça entre as mãos. Eu parecia alguém suspeita de latrocínio. De longe olhava minha moto, as rodas, meus pés, minha calça. Vasculhei tudo em busca de sangue e tripas do animal. Pra minha sorte não havia nada. Quando olhei pro lado, o policial com meus documentos e todos os outros olhavam pra mim num misto de risos contidos e pena. “Deve ser perturbada, tadinha...” - Alguém deve ter pensado. As pessoas que também foram paradas pela blitz deviam pensar que minha vida de crimes estava acabando ali, que eu era uma bandida que finalmente foi descoberta!

Um policial muito gentil – e isso é raridade - me trouxe uma água. Acho que minha cara de pânico era penosa e qualquer um se sentiria solidário com minha situação, até mesmo um grosseiro policial militar. Bebi e joguei um pouco nas mãos numa atitude muito Pilatos de ser. O policial me devolveu meus documentos, me disse pra ir com cuidado e que não tinha ficado nada de sangue nas rodas.

Num suspiro aliviado e agradecido pude novamente subir na moto e partir. Apesar do meu pânico de blitz, essa parada foi necessária para eu me recompor, senão não pararia de grunhir e chorar até chegar no trabalho. A piedade dos policiais comigo, pobre perturbada, fez com que nem reparassem no meu pneu careca e minha seta quebrada. Se não estou devendo R$500,00 reais de multa, é graças ao pobre cachorrinho atropelado...

O fato é que o pobre animalzinho com certeza continua lá. Ninguém vai se manifestar de retirar aquele corpinho frágil do asfalto, nem farão um enterro, nem limparão o sangue. Ele simplesmente vai ficar ali sendo amassado todos os dias até que tudo seque e reste apenas uma mancha escura no chão. Pelos próximos seis meses, ali eu não passo mais...

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