terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Aquele que foi embora.


É pai. Hoje você apareceu na minha cabeça daquele jeito, feito uma tijolada. Você sempre teve essa forma sensível e discreta de aparecer. Nem preciso te contar como está a Flor, nem como estamos nós. Com certeza você tem essa "visão além do alcance" como dos super heróis. Aliás, pra ser super herói só te faltava isso né?... Nem vem achar que está tudo redimido porque santo você nunca foi! Nem se fosse canonizado você o seria! Mas quando você foi embora eu era nova, estava vivendo às turras com o mundo adulto que se apresentava. Hoje te entendo muito melhor. Hoje eu saberia te aproveitar muito melhor... Ah! Bobagem! Saberia nada. A gente nunca sabe o quanto uma coisa é valiosa até perdê-la. Mas essa saudade doída nunca deixou de aparecer. Com o tempo, aquela dor desesperada da perda se transforma nessa saudade. Depois de tantos anos a gente acaba aceitando que você nunca mais entrará por aquela porta e o que reconforta e saber que não se trata de adeus, e sim, de um até breve. Você estará me esperando quando eu chegar né? Tenha paciência porque serão muitos anos de espera da sua parte! Afinal, eu não vou passear por aí tão cedo! Ainda tenho muito dinheiro a fazer e muita felicidade pra viver! Tudo ao seu tempo. Por enquanto eu fico convivendo com essa saudade estranha, como se me faltasse um braço. É mais. Me falta um pai... Porque aquele que foi embora deixa um rastro de olhos molhados por onde sua lembrança passa. Naquela árvore de natal sempre vai sobrar um presente. Aquele que se vai não leva nada, mas deixa tanto para trás. O que antes era o convívio hoje é só memória, e que memória dolorida. No caso dele, dói como um corte profundo. Aquele que se foi deixou filhos crescidos, mulheres chorando, netos nascendo, pessoas no mundo com um buraco no peito. Um buraco que grita e chora. Talvez não mais hoje. Talvez vários peitos tenham se fechado, deixando uma cicatriz que vira e meche é regada com algumas lagriminhas. Porque se for pra lembrar, que seja com paz e não com o tormento da perda. Pois quem perdeu fomos nós. Ele, agora sim, ganhou o mundo.

2 comentários:

  1. Ohh Júlia, que bonito isso! Vim agradecer a visitinha, viu? E acabei lendo algumas coisas tuas, tao bonito, o modo de escrever, é mineirinha mermo...

    Saudade de pai, putz, essa saudade me dói desde que sou menina. Um dia a saudade virou de verdade, e foi qd ele se foi, aquele que se foi :-( Dói mesmo. Eu sei...
    Lindo lindo como vc colocou isso pra fora.

    Um bj menina.

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