sábado, 14 de janeiro de 2012

Voltando aos contos da noite...


Percebeu-se sozinha. Dessa vez não era a solidão desejada, acompanhada de Tim Maia. Solidão do abandono acompanhada de Lupicínio Rodrigues.
Pela casa, ecoava "Você sabe o que é ter um amor? ter loucura por uma mulher? E depois encontrar esse amor, meu senhor, nos braços de um outro qualquer?..."
O gozo da solidão abriu espaço pro buraco do vazio.
Cacos de peito esparramado pelo sofá.

Um dia!
Dera-se o direito de curtir o luto por apenas um dia. Um dia inteiro de lembranças e dores. Um dia inteiro do rímel que escorria pelos olhos. Um dia. Ela, que não era dada à sofrimentos, permitiu-se ter pena de si. "Chorei, chorei até ficar com dó de mim..."

Na manhã seguinte, hora de trocar o travesseiro manchado, tirar o peso dos ombros e apagar lembranças. Sem mais esperanças.
Benzeu-se. Abriu-se pro sol, entregou-se por mundo. Decidiu não chorar. Ninguém é digno do choro sentido de mulher...

Vestiu-se tão mais bonita do que andava nos últimos dias. Subiu no salto pra ter a sensação de ver as pessoas de cima. Sentiu-se linda! Estava linda! E por onde passava, ouvia tantas e tantas vezes tal palavra "linda!".
Depois de se sentir tão feia e pequena, o ego pedia socorro. E como já era de se esperar, se jogou no samba. Se jogou em passos, corpos, bocas, copos, sorrisos. Se joga... Tanto pediu, tanto entregou... Enquanto se jogava, pensava: "Olha eu aqui me jogando sozinha novamente!"

E em sua boca, não mais o risinho bobo no canto, havia malícia, segredo e uma boca molhada de paixão calada!

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