sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Palavras de uma menina parda...



...ou de uma menina negra, de acordo com o IBGE.
Ou palavras de uma pessoa que simplesmente toca sua vida na base do entendimento, respeito e trabalho junto à comunidade negra.
Eu sou, eu faço, eu sei...

Minha mãe me ensinou a não sair por aí espalhando o bem que eu fizer, nem falar demais sobre meus trabalhos pra não atrair inveja.
Acontece que de não falar eu também atraí pessoas que eu não gostaria que estivessem por perto, mas que se encontram perto demais...
Pessoas que durante muito tempo me esperaram cair em uma pegadinha pra detonar uma bomba de sentimentos ruins pro meu lado e contaminar uma leva de pessoas que entraram de gaiato nessa história...
Um dia falei uma coisa que pra mim foi uma brincadeira, mas que ofendeu pessoas por aí. É uma pena ter ofendido mas não é uma pena eu ter dito. Não me desculpo pelo que escrevo mas me desculpo pelo que isso causou nas pessoas.

Pronto. Resolvido. Ou não?...
Não! Porque depois desse acontecido eu descobri muuuuuuitas pessoas que nunca erraram. Muitas pessoas que sempre foram prestativas, boas, espertas e amáveis. Descobri que só eu sou doida, só eu critico, só eu uso maldade, só eu penso bobagens...
É mãe... em casos assim eu preciso dizer coisas...

Preciso dizer que enquanto muitos perderam seu tempo tentando criar uma máscara pra mim, eu estava ocupada pensando políticas afirmativas para os alunos de bônus racial na UFMG. Entrar na UFMG já é bem complicado pra nós, “pretos, pobres e favelados”. Se manter nela é ainda pior!!)
Preciso dizer que enquanto minhas maldades se espalhavam pela boca dos outros eu estava quietinha tocando minha vida e minha pesquisa sobre voz cultura popular para poder fazer uma iniciação científica sobre isso, quem sabe...
Preciso dizer que depois que minha fama de muito mal correu pra fora do meu núcleo eu estava ocupada demais trabalhando pra que meu grupo musical agora se tornasse um grupo teatral também.

Mãe, são coisas que se a gente não diz parece que não fazemos. Quebrei a regra de fazer tudo sem anúncios mas às vezes é preciso que pessoas tomem um sacolejo pra pensar: “uai, será que tudo aquilo que eu ouvi sobre aquela menina do Tambolelê é verdade ou o povo ta exagerando?”
Essas são palavras de uma menina parda que precisavam ser ditas.
Sobre pessoas que usam meu nome por aí, dizer o que? Dizer que alguns escrevem “chupa bando de atleticano viadinho!!” no facebook e ninguém se importa se isso é demasiadamente violento e preconceituoso? Outros dizem “quem leva a erva hoje?” sem pensar na relação direta do tráfico com a questão racial (ou vai me dizer que todos os traficantes são brancos moradores da zona sul??!!).
Eu continuo ocupada demais trabalhando, estudando e divulgando todas as oportunidades que eu posso à todos do meu convívio. Ta precisando de trabalho? Fala comigo que eu ajudo! Quer saber como estudar arte? Bora conversar então! Tenho muito o que fazer além de ficar preocupada com meu nome correndo de forma errada por aí mas existem coisas que precisam ser faladas, esclarecidas e ditas.
Me ofereci tanto pra conversar. Me coloquei à disposição pra qualquer um e ninguém nunca teve coragem de falar pra mim: “Júlia, me explica essa história direito!”

São coisas que eu precisava dizer...
Continuo à disposição com o mesmo sorriso largo.

2 comentários:

  1. Pra mim ta explicado.
    Izabela.

    ResponderExcluir
  2. Ainda me pego impressionada com essas coisas que acontecem. Acho que no fundo tudo se resume ao fato de as pessoas não saberem cuidar da sua vida, só, somente e só.

    Ah! Eu quero estudar arte!!!

    BeijoZzz

    ResponderExcluir